quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Noites de Abril

Nicolau Nagib Nahas é o autor da revista catarinense: "A Ilha dos Casos Raros", a única conservada que podemos conhecer e pesquisar nos dias de hoje. Mas além de escrever revistas e outras peças teatrais (como "Bendito Amor", apresentada no teatro da UBRO), Nahas também se dedicava a poesia. Assim no ano de 1922 publica seu primeiro livro de poemas intitulado "Canções Incultas", patrocinado pelo governo do Estado em comemoração ao centenário da Independência do Brasil.

Seus poemas de modo geral tratam sobre a morte e a solidão, reflexo do estado de espírito do jovem Nahas, que cedo ficou orfão de mãe e sofria muito por isso. Além disso o livro traz em suas primeira páginas poesias de fundo patriótico, bem como uma homenagem ao Dr. Hercílio Luz, uns dos principais governadores do Estado.

Suas poesias foram recebidas pela crítica de forma discreta e modesta. Todos reconhecerão no jovem um poeta em potencial, com muitas falhas, mas muita sinceridade. O crítico do jornal "O Estado do Paraná" Francisco Zicarelli Filho escreveu sobre Nahas: "é mais um artista espontâneo que não se preocupa muito com a perfeição (...) dentro da sua espontaneidade produz obras belas e outras medíocres".

Aqui disponibilizamos o poema de Nahas mais elogiado pela crítica: Noites de Abril


NOITES DE ABRIL

Noites de abril... luar de prata... psalmo
Que todos cantam: uns rindo, outros chorando,
Na belleza illusoria de um céo calmo.

E quanta gente só, ó noites enluaradas,
Vae entre dôr e magua relembrando
As tristes esperanças malogradas!

Luar de Abril... noites de prata... encanto
Dos olhos dos que riem satisfeitos
E desconhecem o travôr do pranto!

Como vos amo, ó noite, e eu quizéra
Que o teu clarão chegasse aos tristes leitos.
Onde nunca fulgiu a primavéra!

Nos leitos tristes dos agonizantes
Para que o teu clarão, ó lua santa,
Sacramentasse os ultimos instantes...

Noites de Abril... fios de prata... hymnos
Que a natureza em tudo vibre e canta
Na orchestração unisona dos sinos!

Quantas almas que gemem torturadas
Pela dôr do abandono e da desdita,
No desespero atroz acorrentados!

Quanta gente que chóra e que maldiz
Da vida torpe a sina tão maldita
Porque nunca na vida foi feliz

Noites de Abril... Sonhos que vão passando
Como phantasmas livídos cantando
Os encantos da vida e do luar!...

São gemidos que fogem torturados
Dos tristes corações dos desgraçados
Que pela vida em flôr passam a chorar...

Quanta gente que chora amargurada
Ao ver assim uma noite enluarada
Tão cheia de silêncio e claridade!

Noites de Abril... luar de prata... magua
Dos que vivem com os olhos razos d'agua
E os corações repletos de Saudade!